Artrite reumatóide: dos sintomas ao tratamento

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O reumatologista Andreas Funke fala sobre os aspectos gerais da doença desde os principais sintomas ao tratamento assertivo

A artrite reumatóide (AR) é uma doença autoimune, sistêmica e crônica que afeta preferencialmente as articulações. Atinge aproximadamente 1% da população mundial e é comum a incidência em maior número nas mulheres do que em homens. Na maioria dos casos, a ocorrência aumenta a partir dos 30 anos de idade, mas pessoas em qualquer faixa etária podem sofrer deste mal.

Entre seus principais sintomas estão o inchaço, rigidez, inflamação das articulações e dores. Por ser sistêmica, em alguns casos, pode atingir ao mesmo tempo outras regiões do corpo, entre elas, os olhos, a coluna cervical e o pulmão. Se não tratada adequadamente, causa deformidades articulares e até mesmo comprometimento de algumas atividades cotidianas.

Quando o assunto é o desenvolvimento da doença – é sabido também que a predisposição genética soma um fator importante em alguns portadores, ou seja, pessoas com histórico familiar de AR têm maiores chances de serem diagnosticadas com a mesma patologia de seus familiares devido aos marcadores genéticos que provocam maior probabilidade de desenvolvimento se somados a fatores ambientais como o fumo, por exemplo. Indivíduos sem histórico familiar da doença também podem desenvolver artrite reumatóide.

Mas diversos outros fatores podem vir a aumentar a sua gravidade, além de minimizar a eficácia e controle da doença. Saiba mais sobre a artrite reumatóide e confira o ping-pong com o reumatologista Andreas Funke – que fala sobre os aspectos gerais da AR, seus sintomas, diagnóstico e tratamento:

 

Dos principais sintomas da AR – quais são os mais característicos e que a diferenciam de outros males reumatológicos?

Andreas Funke: Pacientes afetados pela artrite reumatoide podem ter como sintomas a dor e o edema, ou seja, inchaço, de várias articulações, e comumente se queixam de uma sensação de “travamento” ou rigidez que é sentida ao acordarem pela manhã (e que demora bastante tempo, por vezes horas, para passar). Uma característica importante é a tendência da doença afetar os punhos e as pequenas articulações dos dedos das mãos. É possível que outras doenças, não apenas as reumáticas, sejam confundidas com a AR, sendo necessária uma avaliação médica completa, muitas vezes combinada com exames adicionais requisitados pelo médico para se conseguir diferenciar a AR de outras causas de dores nas articulações.

É frequentemente acompanhada de outras doenças reumatológicas?

Andreas Funke: Não exatamente, é mais comum que os pacientes com AR também sofram de outras doenças não reumatológicas como a hipertensão arterial, o diabetes ou hipotireoidismo. Eventualmente pacientes com artrite apresentam um grau de dor maior do que seria esperado pelo grau de inflamação, podendo receber o diagnóstico concomitante de fibromialgia. Um outro quadro reumatológico que também pode surgir em pacientes com artrite reumatóide é a osteoartrite, por vezes como consequência do processo inflamatório crônico que danifica a cartilagem ao longo do tempo, como um quadro associado possivelmente devido a uma predisposição genética concomitante também para esta outra doença.

Existem com frequência, limitações muito grandes para os portadores, como por exemplo, afastamento do trabalho por conta da doença?

Andreas Funke: Felizmente, com a grande evolução que ocorreu na estratégia e nas opções de tratamento nos últimos anos, é cada vez menos comum que pacientes com AR precisem se afastar do trabalho por conta da doença. Antigamente, com a maior demora para o diagnóstico, além de tratamentos menos eficazes, os pacientes frequentemente apresentavam limitações diretamente decorrentes da inflamação ativa das articulações. Enquanto hoje já temos melhores condições para revertê-la. As deformidades avançadas das articulações decorrentes da doença, e que também poderiam levar a incapacidade física também são cada vez menos comuns nos dias atuais, exceto quando há demora na procura do tratamento adequado ou, raramente, resistência a vários tratamentos diferentes.

O diagnóstico da doença é razoavelmente simples que possa ser identificado pelo clínico geral antes do encaminhamento ao especialista? Existem exames específicos para identificação da AR?

Andreas Funke: Esta é uma pergunta importantíssima, já que a rapidez do diagnóstico e do encaminhamento para o especialista são muito importantes para um melhor resultado do tratamento e prevenção das sequelas da doença a tempo. Além da queixa de dor e da rigidez nas articulações por várias semanas sem uma causa aparente, o clínico geral também poderá verificar se há edema (“inchaço”) ou outro sinal de inflamação em pelo menos uma das articulações afetadas. Os exames de rotina já podem indicar a presença de anemia ou um número aumentado de plaquetas no hemograma. Não existe nenhum exame laboratorial, nem mesmo fator reumatoide, que permita a detecção de 100% das pessoas com artrite reumatoide, não sendo, portanto, obrigatório um resultado positivo para viabilizar o encaminhamento ao especialista.

O tratamento normalmente é feito de que forma? Existe indicação de outras práticas associadas aos fármacos?

Andreas Funke: Em geral é necessário o uso de medicamentos para reduzir ou mesmo eliminar a inflamação das articulações e evitar o aparecimento de deformidades ou sequelas da doença. Além das medicações indicadas pelo médico, também se recomendam a fisioterapia, atividade física de acordo com as possibilidades e limitações de cada paciente, e medidas de estilo de vida como parar de fumar e manter uma alimentação saudável que também ajude a evitar complicações cardíacas ou circulatórias, já que estas são mais frequentes em pacientes com AR.

Existem restrições e também adaptações indicadas para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes?

Andreas Funke: Buscamos sempre, e da forma mais rápida e completa possível, controlar a doença de modo com que os pacientes possam viver normalmente e sem restrições. Entretanto, na presença de doença ainda ativa ou quando há sequelas – pode ser necessária  a redução do grau de atividades diárias, além de desenvolvimento de estratégias de enfrentamento da doença no dia a dia. Por exemplo, uma pessoa que reside num sobrado, poderá reorganizar sua rotina diária para reduzir o número de vezes em que terá que se deslocar do andar térreo ao primeiro andar, e vice versa, usando as escadas. Dependendo do grau de acometimento da locomoção e da função das extremidades, o uso de ferramentas ou equipamentos específicos tais como barras de apoio instaladas nos banheiros, talheres com cabos mais grossos ou com adaptadores, ferramentas para abrir tampas de produtos alimentícios, calçados mais espaçosos, bengalas ou outros utensílios para locomoção – podem ajudar.

Períodos de crise são controlados facilmente? Há remissão da doença? A recidiva é comum ou a doença estaciona de modo a não ocorrerem crises tão frequentes?

Andreas Funke: É possível que ocorram crises quando o tratamento indicado não foi suficiente para manter a doença controlada ou quando o tratamento foi interrompido por alguma razão. Entretanto, o médico pode com base em indicadores específicos para esta doença, efetuar ajustes no tratamento antes mesmo que o paciente considere estar passando por uma crise. Caso ocorra alguma crise, geralmente é possível resolvê-la com o tratamento específico. Quanto à remissão, atualmente ela não é apenas uma possibilidade, mas sim o objetivo do tratamento. Quando a AR permanece controlada por um longo período, é possível se tentar diminuir ou mesmo retirar parte do tratamento sem que ocorram novas crises, e isto é especialmente verdadeiro nos casos em que a doença foi diagnosticada