Sergio Cândido Kowalski fala sobre um náufrago e suas angústias

Deslizando nos mares bravios,

havia champagne e música.

Logo no segundo dia a monotonia se apossou.

Via as ondas selvagens e o rugir do mar bravio no casco do cruzeiro.

Náusea e tontura, revolta pela viagem inútil, vômito de toda existência…

Num lampejo, caí no mar e entrei em desespero,

engoli tragos de água salgada, tossi muito e pensei que partiria logo…

Boiei um pouco mais, pensei nas profundezas do mar…

e não resisti, abri a boca que já permitia entrar pouca água,

saíram lembranças de muitas aventuras, histórias, crimes, música e paixão.

Ainda com as últimas forças, entre goles de água salgada que ardiam em minha alma, consegui sentir o vento torpe, secando minha garganta.

Foram segundos, segundos de liberdade…

Finalmente submergi, levei as migalhas das lembranças em meu coração. Mas, logo se perderam…

ainda havia o rubro sangue tingindo o mar.

Debaixo d’água olhei finalmente o sol, logo se desfez…

e não havia mais nada… somente o fundo do mar, calmo e silente, escuro e sublime,

descanso das almas insanas e inquietas.

 

2º Lugar no Prêmio Literário Dr. João Manuel Cardoso Martins – 2016, promovido pela Sociedade Paranaense de Reumatologia.

Por Sergio Cândido Kowalski