Cachorro de mendigo – José Marques Filho

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Cachorro de mendigo

Vejo sempre.
Paro e fico observando.
Confesso que tenho várias teorias. No fundo, nunca cheguei a entender.
E, interessante, é muito comum e frequente; afinal, camumbembes são comuns
em todas as grandes cidades do mundo.
Já vi na romântica Lisboa, na misteriosa Moscou, na rica Big Apple, na
exuberante Praga e, muito frequente, na velha São Paulo da garoa.
Enfim, existem em todos os lugares deste vasto mundo.
É uma dupla clássica, motivos para bons filmes e boas histórias.
O mendigo e seu fiel cachorro.
Fidelidade a toda prova!
Ambos sujos, famintos, cumplices e companheiros. Eternos companheiros.
Não há mendigo neste mundo que, pelo menos por um período de sua vida,
não tivesse um fiel amigo canino.
E, incrível, a iniciativa da aproximação é sempre do pobre canino, em geral, um
clássico vira-latas, também conhecidos como rafeiros.
Um vira-lata segue outro.
A feição de ambos, com o passar do tempo, tornam-se muito semelhantes.
Mas afinal, o que explica tanto companheirismo do cão em relação a um sujeito
que pode lhe dar muito pouco? Não lhe dá comida, não lhe dá conforto, não lhe dá
carinho, não lhe dá nada!
Certamente esse dilema não passa pelos pensamentos do chamado melhor
amigo do homem. Simplesmente, talvez por destino predestinado, só lhe resta ser,
sempre e fielmente, o melhor amigo do homem.
É puro companheirismo, solidariedade, filia e até mesmo ágape – o amor sem
medidas.
E o tratamento dispensado pelo mendigo? É inacreditável!
Trata mal seu companheiro e parceiro o tempo todo. Chuta-o quando está
bêbado (e, sempre está), faz de tudo para que vá embora.

Mas o cão segue o ingrato camumbembe fielmente.
Dócil, companheiro, tolerante, cúmplice e eterno amigo.
Você já se sentiu, alguma vez, um cachorro de mendigo?

José Marques Filho
Reumatologista
Rua Silva Jardim 343 Centro Araçatuba SP
CEP 16010-340